"Eu
vivia na escuridão por não saber ler. E cada momento em que pego um livro e
estou aprendendo, me sinto com uma visão mais limpa", conta Wellington Ribeiro que,
aos 60 anos, terminou o Ensino Médio e comemora a aprovação no Ensino Superior
para o curso de Direito. "O que puder fazer no estudo eu farei. Vou batalhar,
me dedicar mais. Minha vaidade serão os livros", afirmou.
Wellington
faz parte dos piauienses que voltaram aos estudos por meio da Educação de
Jovens e Adultos (EJA). Ele interrompeu os estudos no ano de 1981 para tentar ser
jogador profissional de futebol nos clubes de Teresina e logo em seguida
começou a trabalhar.
Longe
da sala de aula há mais de 40 anos, o aluno do Centro de Educação Jovens
e Adultos (Ceja) Professora Maria Rodrigues das Mercedes, no bairro Vermelha, alcançou a tão sonhada vaga
no Ensino Superior e hoje cursa Bacharelado em Direito no Instituto Camillo
Filho (PITÁGORAS ICF). Hoje, sua rotina é alternada entre o expediente de
trabalho como funcionário de gabinete, na Assembleia Legislativa do Piauí, e as
aulas do curso de Direito.
Ele
relata que o primeiro passo para entrar no Ensino Superior aconteceu por
insistência de uma professora da EJA. "Tem uma pessoa especial para mim que é a
professora Renegilda. Foi ela que sempre me chamava e me trouxe para fazer a
matrícula. Lembro que ela me encaminhou para a primeira escola, no bairro Parque
Piauí, mas optei por vir ao Maria Mercedes por ter crescido na região da Vermelha. Aqui eu me sinto em casa", disse Wellington.
Ao
falar sobre suas maiores dificuldades na volta à sala de aula, o aluno destaca
como a relação com os professores e colegas de turma foi importante na
adaptação.
"Fiz
todas as etapas na EJA nesta mesma escola iniciando na etapa IV no Ensino Fundamental e o início foi bem complicado. A maior dificuldade foi me deparar
com matérias que nem existiam na época em que frequentei a sala de aula, mas
tive também muita alegria e aceitação junto aos outros estudantes. Mesmo eu
sendo mais velho que eles, a amizade é de irmão e vai ser eterna. Não perdi o
contato com nenhum professor e falo com eles nas redes sociais constantemente. Serão
amigos eternos", pontuou.
O estudante relata que a sua motivação para continuar o estudo foi a vontade de querer mudar de vida e ajudar as pessoas. "Era uma correria ir do trabalho para as aulas, chegando em alguns momentos a nem ter tempo para jantar, porém o importante era ir para a escola. Nunca faltei um dia de aula por vontade própria".
Wellington afirma que nunca
pensou em desistir, mesmo quando sofreu um acidente que o impossibilitou de ir à
escola. "Fiquei internado por alguns dias devido a um acidente em que coloquei
quatro placas e doze parafusos no maxilar e só faltei porque fiquei
hospitalizado. Eu vinha para a escola com a cara roxa e mesmo a diretora me
falava que não necessitava ir, mas eu não queria perder um dia de aula", disse.
Mais um passo
Wellington afirma que terminar todas as etapas do Educação de Jovens e Adultos lhe garantiu, além de amizades um novo olhar. "Foi uma alegria terminar as etapas da EJA e por onde eu ando, conto esta história. Me sinto um exemplo para os meus colegas, vizinhos e familiares, pois aqui fiz amizades que independem da idade".
Emocionado, Wellington
descreve o momento em que comprou o primeiro livro, não mais para os filhos, mas
para si. "Estes dias realizei o sonho de comprar meu primeiro livro e chorei com
minha mãe na livraria. Antes estudava os mesmos assuntos com meus filhos e sempre
recebi o incentivo deles e da minha esposa, agora eles brincam que terão o pai
advogado", narrou.
Resgate
A Seduc
oferta a EJA em 400 escolas. Destas, 28
funcionam exclusivamente como Centros Exclusivos para Educação de Jovens e
Adultos, Ceja, nos turnos manhã, tarde e noite.
O Centro de Educação Jovens e Adultos (Ceja) Professora Maria Rodrigues das Mercedes
atende 568 alunos divididos em 5 turmas a tarde e 5 a noite. A escola oferta as
etapas III, IV e V para o Ensino Fundamental e as etapas para VI e VII voltado
ao Ensino Médio, como explica a diretora Raimunda Soares Pimentel.
"São
dois perfis de públicos distintos que a escola atende, sendo a tarde com aulas
para o público mais jovem entre os alunos e a noite para resgate do público que
interrompeu os estudos, mas busca retomar a rotina na sala de aula. Fazemos
atividades com palestras, gincanas e a parte cultural para atrair este aluno", disse a diretora.
A diretora conta que a escola tem uma equipe engajada e a busca ativa por alunos é constante. Ela ressalta que com o empenho de todos o Centro tem conquistado bons resultados e, em 2018, 15 alunos da escola ingressaram no Ensino Superior.
"A
nossa escola está focada em resgatar esse aluno que passou muito tempo fora da
sala de aula para que tenha interesse em voltar a estudar. Na etapa
de Ensino Médio temos aulas voltadas para o Enem. Em 2018 os nossos alunos conquistaram vagas no Ensino Superior e estamos trabalhando para que em 2019 mais estudantes sejam aprovados em universidades", comemorou Raimunda.
Investimentos na EJA
Nos últimos dois anos o analfabetismo no Piauí caiu de 20,2% para 16,6%. O reforço nos investimentos humano e financeiro da Educação de Jovens e Adultos demonstram que é uma área prioritária para o Governo do Estado. "Em 2000 tínhamos apenas 135 escola que ofertavam EJA. Ampliamos o número de escolas que ofertam a modalidade e hoje temos 426 unidades atendendo esse público", destaca o secretário da Educação, Ellen Gera Moura.
Além de trabalhar com a Busca Ativa para garantir o retorno deste público à sala de aula, a Seduc tem investido na formação dos profissionais que atendem esta modalidade. Com esse avanço na educação, a meta do governador é atingir Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0.70 nos próximos anos.
"Vamos continuar trabalhando para aumentar os anos de estudo e capacitar esse público para o mercado de trabalho, afim de que haja uma mudança não só na escolaridade, mas da condição social e na valorização profissional destas pessoas. Para isso, vamos investir em programas de alfabetização e também na infraestrutura das escolas que ofertam Educação de Jovens e Adultos. Hoje, a EJA deixou de ser uma modalidade para buscar certificado e passou a ser uma oportunidade, a exemplo temos aprovados em Direito, Medicina, Engenharia e ótimos resultados em olimpíadas como a Obmep", ressalta o secretário.