Ela conseguiu transformar um problema em um projeto de sucesso. Ao perceber uma grande quantidade de adolescentes grávidas no Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP) Professor João Mendes O. de Melo, o Premen Norte, a professora Lessandra Ribeiro, há 4 anos resolveu incentivar os alunos à leitura.
"Teve uma época que haviam 10, 15 grávidas na escola. Eu dava
aula em uma turma com três grávidas. Então percebi que tinha que fazer algo
para mudar essa realidade", explica a professora. E em pouco tempo de execução
do projeto "Na adolescência não faça filhos, leia livros" o número de grávidas
reduziu significativamente na escola de responsabilidade da Secretaria de
Estado da Educação (Seduc). "Chegamos ao nosso objetivo, reduzimos quase 90% o
índice no CEEP Norte", confirma a idealizadora do projeto.
Alertar na prática sobre as consequências de ter um filho
tão cedo e sem planejamento foi o meio que Lessandra Ribeiro achou para comover
os alunos. Por isso, com todas as turmas de 1º ano, ela executa o projeto que
começa em sala de aula, mas se estende à casa deles. Os estudantes levam pintinhos,
os quais terão que ser cuidados integralmente durante três semanas. Casais são
escolhidos por meio de sorteio para dividir a responsabilidade e sentir um pouco
o peso de ser pai e mãe. Ao fim do período, todas as turmas de 1º ano se
encontram para compartilhar a experiência. É neste momento que a professora
também explana de uma forma bem lúdica como é criar um filho, fazendo com que
eles reflitam que é bem melhor ler livros.
"Os alunos vivem a experiência, no início divertida e depois
estressante, de serem pais de pintinhos na adolescência. Em paralelo, grande
parte dos alunos são incentivados a ler paradidáticos e constatar na prática
que é melhor ler livros do que ter filhos na adolescência", relata a professora.
Nesta terça-feira (18), no auditório do Premen Norte, os
sorteados puderam relatar a todos como foi a experiência. "No começo foi divertido,
mas depois foi cansativo. Tinha que ter muita responsabilidade", relata João
Wallysson, 15 anos, que avalia o aprendizado positivamente.
Já Alexandra Bezerra teve que ser "mãe solteira", pois o
colega de trabalho não quis assumir a responsabilidade de um pai, que é o que
ocorre muitas vezes na vida real. "Foi muito ruim, o pintinho fazia muito barulho, eu tinha que ficar limpando toda a sujeira que ele fazia. Aprendi que
não é bom ter filho na adolescência", conclui a jovem de 15 anos.
Maria Vitória teve a mesma conclusão que Alexandra Bezerra,
mas pelo menos, ela teve o apoio do colega Wesley Ruan, 14 anos, que soube
dividir todas as tarefas ao cuidar do pintinho. "Eu senti a responsabilidade,
mesmo ele ficando uma semana comigo e outra com ela", diz o garoto. "A parte
mais difícil foi dar atenção para ele. Porque ele ficava piando toda hora e eu
não sabia o que ele queria. Isso foi muito importante porque nos conscientizou que
não temos estrutura para criar um bebê", conta Maria Vitória, 15 anos. Wesley
Ruan ainda acrescenta, "aprendi, de fato, que não é para fazer filhos na
adolescência e sim ler livros".
Essa é a quarta edição do projeto de alto impacto que além
de conscientizar os adolescentes sobre os riscos de uma gravidez precoce e a
importância da sexualidade saudável, chama atenção aos perigos psicológicos,
físicos e sociais da contração de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).
Com um sorriso no rosto e motivada diariamente a explorar
mais e mais desse universo da leitura com os jovens, a professora, formada em
administração e letras inglês, tem uma próxima meta. "Agora que conseguimos alcançar
a redução do número de grávidas adolescentes, queremos melhorar as notas dos
alunos da escola no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)", diz a professora
otimista, crente no potencial dos alunos e grata pelo apoio da Seduc. "Neste ano tenho a alegria de elogiar a Seduc
por ter enviado os livros que hoje os meninos têm acesso", ressalta. Isso
porque há dois meses eles inauguraram a biblioteca da escola com mais de 2 mil novos livros paradidáticos, dos mais variados gêneros, doados
pela Seduc.
A aceitação da nova biblioteca, instalada na sala da Empresa
Junior da escola, a Técnicos Jr, responsável por todos os projetos extracurriculares
do Premen Norte, foi tão grande que há alunos que já leram todos os livros disponíveis. A responsável pela biblioteca, Débora Beatriz,
percebe a empolgação deles. "Nós estamos percebendo que os alunos estão amando
ter os livros da biblioteca à disposição, porque a cada semana pegam um diferente.
Tenho pessoas que já leram todos esses livros aqui e olha que nós só estamos
com 2 meses", relata a jovem que diz ser uma função gratificante.
Um trabalho que foi sendo disseminado aos poucos até contagiar
a todos. "É muito bom saber que todos nós estamos abraçando a ideia da leitura
e desapegando um pouco do mundo virtual. Quando a biblioteca foi inaugurada os
incentivamos muito, passamos nas salas, mostramos como funcionaria a biblioteca,
fizemos cartazes. E agora eles vêm atrás. Muitas vezes os professores pedem,
mas também muitos vêm voluntariamente", observa Alvino Mateus, presidente da
Empresa Junior, Técnicos Jr.