Durante o evento, a doutora antropóloga Carmem Lúcia da Silva Lima, pesquisadora do CNPQ com um projeto que busca refletir o fenômeno da emergência ética no Piauí, destacou a relevância desse trabalho que a Seduc está desenvolvendo visando preparar o professor para lidar com o multiculturalismo típico da população brasileira, bem como se adequar às exigências legais. Especificamente com as Leis 11.645/2008 e 10.639/2003 que tornaram obrigatório nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
De acordo com a Lei 11. 645/2008, "o conteúdo programático deve incluir aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil", diz o artigo 1º da referida lei.
Valorizar a cultura indígena é desafio da escola inclusiva
Entre os principais desafios, segundo a doutora Carmem Lúcia, além de cumprir efetivamente a lei, estão "a necessidade de se criar escolas indígena nas comunidades indígenas, criar o magistério indígena, pois a educação indígena é diferenciada e para ser professor indígena é preciso ser indígena". Segundo Carmem Lúcia, o Piauí tem comunidades indígenas nos municípios de Piripiri, Pedro II e Lagoa do São Francisco e a no município de Queimada Nova.
Ao se falar sobre os desafios colocados hoje às populações indígenas os pesquisadores alertam para a forma como a cultura indígena vem sendo apresentada nas escolas. "Assim como os outros mudaram as populações indígenas também mudaram, então é normal que o índio use celular, ande vestido, que faça faculdade, etc", relata a pesquisadora.
Novos olhar - Orgulho da origem indígena e negra
Um dos aspectos positivos relatados pela doutora Carmem Lúcia é que pessoas de origem indígena e negra começam a sentir orgulho de sua origem que até bem pouco tempo era negado. Isso é possível em uma sociedade multicultural. "Nesse sentido a CRFB/88 é um marco, pois é a primeira vez que se reconhece o Brasil como constituído como de uma diversidade de povo", destaca.
A doutora Carmem Lúcia, que já desenvolveu estudos sobre a população indígena nos estados de Roraima, Ceará, Piauí, Recife, relata que os índios da região Norte têm um posicionamento diferente em ralação a sua raça em relação aos índicos do Nordeste, que tem uma tendência a negar sua origem, o que culmina em uma contagem subestimada dessa etnia.